Frustração é a famosa decepção. Coração partido, fracasso, perda. Quebrar a cara, levar um balde de água fria. Quem nunca passou por isso nessa vida? A frustração é o sentimento que nos toma quando algo que buscamos nos escapa das mãos. Seja na vida pessoal ou profissional.
A partir dessa definição, se eu te perguntar se a frustração é boa ou ruim, certamente, você responderá: É ruim. E essa resposta não está incorreta. De fato, a sensação de frustração não é nada agradável.
Só que existe um porém. Na filosofia budista, entendemos que as dores da vida, todos elas, acontecerão. Cedo ou tarde, a gente se decepciona conosco, com outra pessoa ou com uma situação. Isso não está em nosso controle: é impossível viver sem frustração.
O pensamento budista diz que a dor é obrigatória, mas o sofrimento é opcional. O que isso significa? Bem, a frustração vai bater na sua porta, mas a forma como você lida com ela pode mudar tudo. Não estou falando aqui sobre ignorar o que você sente. Muito menos de se negar o direito de sentir. O que quero dizer é que a frustração pode ser o fim de uma busca ou o sinal de um recomeço.
A importância da frustração
Já entendemos que a frustração acontece quando você está buscando algo. Esse processo de busca, em qualquer área da vida, está repleto de aprendizados. A cada nova jornada, crescemos, principalmente quando estamos abertos a essa educação da escola da vida.
Agora, preciso te falar algo sobre a educação. O processo de aprendizado passa pelo erro. É impossível aprender algo realmente complexo sem errar. E o erro não é de todo ruim. É certo que ele nos causa frustração. Mas, se entendermos esse erro (seja ele nosso ou de outras pessoas), como parte do processo, como algo que é inerente a nossa vida, as coisas ficam mais interessantes.
Se você está numa busca, naturalmente, tem um por quê. Você deseja algo, por isso está disposto a enfrentar uma jornada. Seja a busca por uma colocação no mercado de trabalho, um relacionamento afetivo saudável ou mais harmonia nas relações com seus familiares. Se você está frustrado, é porque algo não saiu como o planejado. É porque sua vontade de conquistar esse algo é muito grande e ela foi afetada.
A tal força de vontade
Sabe, quando eu estava passando por um momento muito difícil de minha vida, depressão, ansiedade e tudo mais, detestava ouvir das pessoas que eu precisava ter força de vontade. Isso acontece porque a depressão é justamente a aniquilação dessa força. Eu estava totalmente apagada, apática e não conseguia sentir mais nada. Os poucos momentos em que conseguia sentir alguma coisa, geralmente, eram sentimentos de tristeza e frustração.
O processo de recuperação foi lento e, para ser sincera, acredito que ele sempre estará em curso. Como uma pessoa alcoólatra nunca mais pode beber um gole se pretende se recuperar, eu também tenho que resistir ao desânimo todos os dias. Os primeiros dias e as recaídas são terríveis, mas quanto mais forte eu fico, melhor consigo viver.
Uma coisa muito comum nos períodos de frustração é a desistência. Muita gente abandona seus objetivos quando se depara com a frustração. Isso é a coisa mais comum do mundo. Já passei por isso várias vezes em minha vida. E se você analisar sua própria história, também vai se lembrar que passou por isso.
O grande problema da desistência é que ela é, em si, um golpe à sua força de vontade. E agora vou te falar sobre o que eu aprendi sobre a força de vontade.
Potência de agir
O que te faz levantar da cama todos os dias, mesmo quando está cansado e triste? O que é essa fagulha, que nos motiva a seguir, mesmo quando todas as chances estão contra nós? Para o filósofo Spinoza, é a potência do ser.
O pensamento deste filósofo é vasto e complexo. Meu objetivo aqui não é falar sobre seus conceitos. Quero apenas explicar brevemente seu pensamento e a lógica que me ajuda a manter minha potência do ser fortalecida, ou melhor, a lógica que me permite ter consciência dessa potência.
Para Spinoza, Deus não criou o mundo e depois foi embora. Na verdade, Deus, essa imensa força criadora que se faz e produz as coisas a partir de si mesma, é tudo. Deus é criador e criação. Parece abstrato dizendo assim. Mas, você já ouviu falar que Deus está em tudo? Que ele é onipresente e onisciente? Pois então. Se Deus é tudo, eu e você somos uma parte dele. Uma parte limitada e falha, mas ainda assim uma parte. Se somos Deus, temos, assim como ele, essa potência. Nossa potência de ser e fazer as coisas é a manifestação divina em nossa existência. Deus está em nossa potência de ser.
Potência significa algo que está por vir. Que ainda não é, mas que pode ser. Então, você é essa potência. Você é o que você pode ser e fazer. Eu sou a minha potência, minha essência é o poder fazer.
Veja, se você é sua potência, quando golpeia seu querer fazer por causa da frustração, está se matando um pouco. Está negando o Deus que existe em você. Está abrindo mão de sua divindade. Está desistindo de viver.
Para cultivar nossa potência do ser, precisamos alimentar os afetos de alegria, amor, todos os sentimentos que nos fazem ser o que somos: potência de agir como manifestação divina. A frustração é um sentimento inevitável, mas que não precisa ser regado, não precisa dar frutos.
Deixo aqui as palavras de Clóvis de Barros Filho sobre a potência de agir, ele que, evidentemente, consegue explicar essas coisas muito melhor do que eu:
Sei que fui muito além do que você imaginava neste texto. Mas acredito na filosofia como uma forma de lidar com a frustração e com tudo o mais que a vida nos proporciona. Caso não tenha compreendido ou discorde de mim, por favor, escreva nos comentários. Vamos dialogar?
E já que você está aqui, que tal ver mais?
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