Como sair da zona de conforto

Como funciona a zona de conforto e por que você tem medo de sair dela

Existe coisa mais gostosinha do que uma zona de conforto? A zona de conforto é um ponto de equilíbrio. Está entre fugir das transformações profundas das quais sua vida necessita e correr direto para elas. A origem desse espaço “chapa branca”, típico do “chove e não molha”, é o medo.

O medo, porém, não é a única peça dessa enorme engrenagem psíquica. Tem mais: a sensação de morte. Tenebroso, não? Agora, uma coisa é certa, existe sim algo muito melhor de que uma zona de conforto: a superação desse espaço de medo e ilusão.

Ir além dessa área de estagnação pode ser tão aterrorizante quanto se jogar de um penhasco. Mesmo assim, desfrutar de um novo patamar de desenvolvimento e paixão pela vida vale toda essa adrenalina. Aliás, com o tempo esse friozinho na barriga passa a ser bem divertido.

Amar pode dar certo

Quem explicou esse mecanismo foram Roberto Shinyashiki e Eliana Bittencourt Dumêt no belíssimo livro Amar Pode dar Certo, lançado pela Editora Gente em 1992. A versão que li é a antiga e foi devidamente revisada e ampliada em 2012. Não cheguei a conferir essa publicação repaginada. Mas, caso tenha interesse, você pode comprá-la aqui.

Apesar de estar um pouquinho defasada, gosto da edição antiga. Com a apresentação de Leonardo Boff e uma graciosa Declaração dos Direitos do Amor, esse livro reflete muito da sua época. Um momento histórico em que o nosso país respirava novos ares de liberdade recentemente adquiridos.

De qualquer forma, você pode estranhar que um livro que fale de relacionamentos amorosos possa contemplar o tema da tal zona de conforto. Se você tem essa dúvida, pode desfazer esse nó. Zona de conforto tem tudo a ver com relacionamentos que não dão certo. E vou te explicar como.

Era uma vez um ratinho

Como funciona a zona de conforto e por que você tem medo de sair dela 1

Para falar da zona de conforto, que Shinyashiki e Dumêt chamam de ponto de equilíbrio, eles usam a história de um ratinho.

Era uma vez um ratinho que foi colocado numa gaiola por um pesquisador. Assim que entrou em seu novo território, o bichinho percorreu todo o espaço. Explorando os lugares desse novo ambiente ele descobriu um pratinho de comida. Quando sentia fome ele ia até lá para se alimentar e quando estava satisfeito passeava livremente por seu espaço.

Só que em um dos momentos de fome, ele foi até o seu prato e, ao tocá-lo levou um choque muito forte. Tão forte que outro choque desse poderia levá-lo à morte. Assim que tomou o choque, o ratinho correu para a direção contrária e ficou longe do alimento. Nesse instante, o ratinho não sentia mais fome. Evidentemente, o que ele sente agora é apenas a sensação do choque. A fome, entretanto, volta depois de um tempo.

Sensação de morte

Agora, o pobre ratinho está diante de um dilema: morrer de fome ou tomar um choque letal. Essas duas possibilidades trazem uma sensação de morte ao animal. Quando a fome é insuportável, o ratinho se aproxima novamente do pratinho. Quando está quase tocando o tão desejado alimento, ele entra em pânico e sente todos os sintomas do choque: o coração dispara, os pelos de seu corpo se eriçam e ele, desesperado, corre novamente para longe da comida.

Mesmo que não tenha levado outro choque, o ratinho experimentou uma sensação tão similar que chega a acreditar que, de fato, levou outro choque. Logo, para ele, foram dois choques experimentados até então. A esta altura o pesquisador já havia desligado a eletricidade e era impossível que o rato tivesse sido eletrocutado novamente. Ele, contudo, não sabe disso e continua crente de que levou dois choques e permanece com medo.

Ponto de equilíbrio

A fome não o deixa relaxar e, por isso, ele vai se aproximando do pratinho vagarosamente. Até que ele atinge um ponto de equilíbrio. Fica entre o lugar da fome, ou seja, o ponto mais afastado do pratinho e o pratinho. É um espaço intermediário e minimamente confortável entre a fome desesperadora e a possibilidade de levar outro choque mortal. Eis a zona de conforto.

Qualquer barulho, movimento brusco ou mudança repentina faz com que o rato seja tomado pelo medo e corra novamente na direção oposta ao da comida. O que ele precisa de fato nesta hora é comer, mas dificilmente terá a atitude de simplesmente ir até a comida.

O pesquisador poderia pegar o rato em suas mãos e empurrá-lo para o pratinho. E isso seria fatal, pois o terror faria com que o animal morresse com uma parada cardíaca de tanto medo do choque.

Zona de conforto

Pode ser que você esteja encucado com uma dúvida: será que isso tem mesmo alguma coisa a ver com a zona de conforto? Pois a resposta é sim. Zona de conforto é o mecanismo, o ponto de equilíbrio, que nos mantém seguros, porém ainda insatisfeitos.

Em Amar Pode dar Certo, a pergunta é certeira:

Quantas vezes você tomou o choque sem tocar o prato?

O choque pode ser compreendido como os traumas que desenvolvemos. Principalmente durante a infância. Se usarmos o amor como exemplo, assim como os autores do livro, poderemos perceber isso com mais nitidez. As experiências de rejeição, de frustração ou de fracasso que você viveu ao longo de sua vida fizeram com que várias coisas boas e gratificantes se transformassem em fontes de dor e sofrimento.

Por isso, muitas vezes, é muito melhor ficar naquela área segura. Mesmo que não completamente contentes. Espreitamos o alimento especial de longe e, ao menor sinal de desorientação ou insegurança, corremos desesperadamente na direção contrária.

Nas palavras dos autores:

Na vivência no ponto de equilíbrio, o medo não se faz consciente. E o equilíbrio varia de pessoa para pessoa, dependendo de como, quanto e quando se foi rejeitado, abandonado ou inseguro no passado.

Na infância, a maioria de nós tomou choques fortes de rejeição. Se não a rejeição real, ao menos a percepção de que estava sendo rejeitado, o que para efeitos psicológicos é a mesma coisa. (Pág. 31).

O pratinho eletrizado pode ser viver um amor intensamente, fazer uma nova amizade, buscar a carreira que mais te agrada, fazer uma faculdade, viajar pelo mundo…

Como sair, então, da zona de conforto?

Não existe fórmula mágica. Como tudo nesta vida, sair da zona de conforto é trabalho de formiguinha. E, a partir do momento que você toma consciência de que o prato não está eletrificado e consegue comer, uma nova zona de conforto lentamente se forma até que você descobre um novo prato que te causa medo.

Para sair dessa lógica é preciso compreender como esse medo funciona e age em você e, gradualmente, ir se desprendendo dele. Pode ser que seu coração acelere, que sua respiração fique agitada e você sinta uma vontade gigantesca de fugir para o lado oposto.

Apenas quando você aprende a lidar com esse medo e decide ir além dos limites impostos pelos seus traumas que você poderá se deleitar com o banquete. Permita-se, pois nem todos os pratos estão eletrificados.

Como funciona a zona de conforto e por que você tem medo de sair dela 2

O que achou da história do rato? Consegue se enxergar nesse dilema? Conta pra gente nos comentários e compartilhe com os amigos. Fique à vontade para dar sugestões de temas, ok?

Abraço!

O que achou do artigo? Comente!