Taro e autoconhecimento

Tarô e autoconhecimento: entrevista com Tatiana Cruz

Todos nós temos pontos cegos em nosso próprio ser. Pensamos e agimos no automático e, de uma hora para outra, passamos a estranhar nossas próprias reações e atitudes. O que chamamos de hipocrisia nasce justamente de atitudes e pensamentos que acessamos no automático. Dessa forma, acabamos fazendo coisas que não aprovamos no comportamento de outras pessoas. E o pior: muitas vezes fazemos sem nem perceber.

Quando não nos conhecemos criamos hábitos difíceis de mudar, vícios de pensamento que nos prendem num ciclo sem saída. O rosto que vemos ao espelho é familiar, mas nossas próprias reações às situações do cotidiano podem nos surpreender. Por isso, o autoconhecimento é uma forma de entender melhor quem somos, com defeitos e virtudes.

E isso não é nada fácil. Desde a Grécia Antiga que o conselho é dado: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”, disse Sócrates. E mesmo tendo vivido tanto tempo depois dessa sábia orientação, o ser humano persiste na falta de entendimento sobre sua própria personalidade.

Tatiana Cruz

Tarô e autoconhecimento: entrevista com Tatiana Cruz 1
Essa é Tatiana Cruz fotografada por Camila Fontenele.

Para enveredar pelo mistério de nosso próprio ser existem vários guias. Já falamos sobre a jornada do herói como uma boa ferramenta de autoconhecimento aqui no blog. E hoje vamos falar mais sobre o Tarô. Enviei algumas perguntas para a Tatiana Cruz, coautora da página Tempestade e apresentadora do podcast de mesmo nome. Tati é formada em Letras e trabalha com educação infantil. Meditar e entender mais sobre o tarô, assim como escrever sobre os Arcanos, tem sido uma experiência transformadora para ela.

Confira só a nossa conversa:

1. Como você começou a se interessar pelo Tarô?

Quando eu era criança adorava mexer nos baralhos comuns de jogo, olhava para cada carta e pensava que elas tinham mais algum significado que ninguém sabia. Então sentia que precisava descobrir mais sobre isso e muitas vezes me deixei levar pela imaginação. O tempo foi passando, e por volta dos 14 anos comprei meu primeiro Tarô. Percebi logo de cara que as informações acessíveis naquela época eram muito rasas. Então fui convivendo com as cartas e entendendo o que estava por trás de cada desenho, cor e número. O Tarô é um Universo inesgotável de símbolos que se ligam a todos os aspectos da vida real. E essa riqueza de possibilidades é o que me mantém fascinada até hoje, pois sempre aprendo algo diferente.

2. Você escreve no Medium textos sobre os arquétipos do Tarô e também faz um podcast junto com a Camila Fontenele. Como tem sido esse processo para você?

Esse processo de falar mais e escrever sobre o Tarô está sendo incrível, pois durante todos esses anos eu apenas acumulei o conhecimento e não dividia com ninguém, ficava tudo guardado como um segredo. Agora eu consegui unir duas coisas que eu escondia: o Tarô e a escrita. O que tem sido um desafio bem interessante e ao mesmo tempo gratificante. Isso está acontecendo graças aos incentivos da Camila, que sempre me faz olhar pras coisas que sei e que não compartilho. Em 2015 começamos a conversar sobre o Tarô (e essas conversas são praticamente infinitas) o que acabou nos dando a ideia de criar o podcast Tempestade, onde falamos de um Arcano por episódio, seus símbolos, arquétipos e como enxergamos tudo isso na vida real. Alguns meses depois de começar o Podcast resolvi passar para o Medium um pouco mais do que sei (também com muito incentivo da Camis), e lá faço diariamente uma interpretação de duas cartas, que direciono como conselho para quem acompanha os textos. Todo esse processo está me fazendo perceber a importância de compartilhar, pois tudo faz mais sentido quando nos abrimos para interagir com as pessoas.

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3. Conta um pouco sobre o que é o Tarô. Como funciona?

O Tarô é um oráculo muito parecido com o baralho comum. Nos ajuda a encontrar respostas e conselhos por meio dos seus símbolos. Existem diversos tipos de Tarô, com figuras e artes diferentes, mas a maioria possui a mesma estrutura, quantidade de cartas e significados. Tradicionalmente possui 78 cartas, que chamamos de Arcanos, termo que significa mistério. Cada Arcano é muito rico em símbolos e significados e, conforme eles saem conseguimos montar um enredo que vai de encontro aos nossos questionamentos. Podemos elaborar tiragens para esclarecer qualquer tipo de situação, desde questionamentos sobre a vida mais concreta até assuntos espirituais, o importante é ter clareza e ser específico sobre o assunto que precisa de elucidação e conselho. O Tarô não tem ligação com qualquer tipo de crença ou superstição, não precisa de rituais ou de conhecimentos ocultistas, o acaso se encarrega de fazer surgir as cartas certas no momento certo. Para uma leitura funcionar, precisamos saber o que queremos, formulando perguntas bem estruturadas e determinar previamente qual será a função de cada carta no jogo. Depois, é só fazer a interpretação das cartas e das interações que elas fazem.

4. O que são os arquétipos do tarô?

Os arquétipos são imagens ou símbolos que nos remetem ao inconsciente coletivo para atribuir significados. Foi um assunto muito estudado por Jung . Somos submetidos ao contato com símbolos desde tempos primordiais, e a maneira que reagimos quando somos expostos a eles é praticamente a mesma em todo o mundo. Percebemos isso claramente em estratégias de publicidade, que usam muito dessas simbologias com o intuito de induzir as pessoas a reagir positivamente a um determinado produto. Dentro do Tarô podemos encontrar diversos símbolos que são arquétipos de situações que acontecem na nossa vida real. E quando nos aprofundamos na ilustração de cada carta conseguimos entender toda essa lógica. Então, o que temos que fazer é como se fosse uma tradução dos arquétipos de cada arcano e como isso se aplica na nossa vivência.

5. O tarô é conhecido pela maioria das pessoas como uma forma mágica de prever o futuro. Conta mais sobre como você entende o tarô.

Realmente, muitas pessoas querem saber uma previsão do futuro ou fazem perguntas para saber sobre outras pessoas. Eu acho que esse tipo de curiosidade não ajuda muito, pelo contrário, pode causar ansiedade e auto-sabotagem. Temos possibilidades muito mais ricas para ler as cartas, que ajudam a compreender melhor a vida. O Tarô tem a potência de mostrar nossos bloqueios, medos, defeitos, virtudes, etc. A partir disso podemos nos conhecer melhor e entender como podemos trabalhar para superar problemas e dificuldades.

6. Como o tarô pode ajudar as pessoas a se conhecer melhor?

A leitura do tarô pode ser direcionada para entender melhor o momento de cada pessoa, como as dimensões física, mental, emocional e espiritual se encontram, como elas podem se desenvolver para chegar a um equilíbrio, e como isso interfere no trabalho, nos relacionamentos, na saúde, nos pensamentos e nas atitudes. Podemos descobrir potencialidades que precisamos trabalhar para despertar nossos talentos, ou ainda receber conselhos para superar obstáculos que estamos enfrentando. Existem possibilidades infinitas de ler as cartas, então é importante direcionar as perguntas sempre buscando mais clareza para os aspectos que precisam ser compreendidos e trabalhados para superar os contratempos.

7. Quais dicas você daria para quem quer conhecer mais sobre o tarô como ferramenta de autoconhecimento?

Acho importante ter o hábito de questionar sempre, indo a fundo nas respostas que surgem no Tarô. Principalmente quando surgem Arcanos considerados como negativos, pois são eles que indicam com mais precisão quais questões estão causando adversidades. Podemos nos deparar com muitos aspectos que escondemos de nós mesmos, e quando isso acontece é interessante perceber como essa sombra nos bloqueia e influencia nas nossas escolhas. Quando o Tarô indica esses aspectos podemos trabalhar de maneira consciente sobre eles e assim se torna possível encontrar as soluções e o equilíbrio necessário.

 

Se você se interessou pelo Tarô, corre lá na página Tempestade para ler e ouvir mais sobre os arquétipos desse oráculo tradicional. E para quem quer saber outras formas de se conhecer melhor, que tal conhecer Joseph Campbell?

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