Fanatismo

Fanatismo: conheça 5 características deste delírio moderno

O fanatismo é uma palavra que define muito do que vivemos em nosso país. E vou logo dizendo: existe fanatismo de todo o tipo. Na religião, no esporte e na política. Na profissão e no amor. Ser fanático é um problema de cegueira e paixões desenfreadas. Precisamos falar sobre isso.

Você conhece alguém fanático? Você se considera alguém fanático? Dizem que quem tem mau hálito nunca aceita a balinha… Bem, se você está aqui é possível que esteja aberto o suficiente para olhar para si de forma sincera e inteligente. E se fizer isso, pode conseguir ver pontos cegos em suas próprias crenças.

O que é fanatismo, afinal?

“Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No mist’rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!… ”

Esse é um trecho do poema Fanatismo, da poeta Florbela Espanca. E define lindamente o fanatismo. Ser um fanático é  viver em função de uma ideia. Não de um jeito bonito, constante e disciplinado. Mas de um jeito apaixonado, desesperado. Cegueira e obsessão.

Vamos ver 5 pontos básicos do fanatismo?

Fanatismo
A multidão de espectadores nos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim levanta a mão na saudação nazista em homenagem à chegada de Hitler ao estádio. Fotografia: Bettmann / CORBIS

1. Doutrinação

Fanatismo

Doutrinação é uma palavra que anda na moda. Há quem veja doutrinação em tudo, tudo mesmo, nas escolas, na imprensa, nas músicas… Menos no conteúdo que recebe pelo WhatsApp, esse é aparentemente 100% verdadeiro. Mesmo que você nem saiba de onde vem. Ainda que você não saiba quem produziu aquele conteúdo e com qual objetivo.

Veja, doutrinação é uma palavra que possui vários sentidos. No dicionário, ela aparece com duas definições, pode significar o processo de aprendizado, ensinar algo a alguém, mas também pode indicar o ato de convencimento de uma ideia, de forma que a pessoa convencida seja incapaz de duvidar desse ensinamento.

O fanático foi doutrinado em algum momento. Mas, existe diferença entre ensinar e doutrinar? Sim. Quando o conhecimento é fruto de questionamentos e raciocínios, as chances de ser doutrinação são menores. Quando é uma verdade que a pessoa não sabe explicar o por quê, apenas diz que é assim porque sim. As chances de ser doutrinação aumentam muito…

2. Certeza absoluta

Fanatismo

A certeza absoluta anda de mãos dadas com a doutrinação. A verdade inquestionável é perigosa. Ela guiou as pessoas a realizarem as maiores atrocidades da história da humanidade. A certeza absoluta é uma forma de limitar o indivíduo. Você sabe o que é um antolho? É um instrumento utilizado em animais de montaria, cavalos, geralmente. Esse instrumento limita a visão periférica do animal, fazendo com que ele só consiga ver o caminho em sua frente e, assim,  se mantenha sob controle.

Nossas certezas inquestionáveis estreitam nossa visão. E isso acontece para servir a algum interesse. Quando o cavalo usa o antolho, acaba servindo aos interesses do cavaleiro. A quem servem as suas certezas absolutas? A quem elas beneficiam no fim das contas? Certamente não é a você mesmo.

3. Nós contra eles

Fanatismo

O ser humano é um animal racional e social. Ah, como gostamos de participar de um grupo, de nos sentirmos acolhidos e pertencentes a um coletivo… O problema é quando isso causa animosidade. Quando nos agrupamos por interesses, é comum nos sentirmos muito confortáveis ali. Mas, quando esse grupo coeso do qual fazemos parte acaba criando uma rixa com outro grupo diferente, a coisa complica.

O clubismo pode descambar para uma gangue fácil fácil. Basta que se crie uma tensão, um clima de “nós contra eles”. Nesse tipo de situação, nós fomos doutrinados, mas não sabemos. Nós acreditamos que defendemos uma verdade inquestionável, e por isso, devemos combater os inimigos que estão do lado de lá. Como não acreditamos que somos doutrinados, jogamos a pecha de manipulados para cima deles. Assim se cria a semente de movimentos racistas, fascistas… É coisa séria.

4. O privilégio da verdade

Fanatismo

Além de se sentir parte de um grupo com o qual se identifica, o fanático sente-se o máximo: ele está certo, está ao lado dos que fazem o bem e os outros, coitados, são uns iludidos. O fanático se sente cheio de si porque pensa que a verdade está com ele.

Sente-se privilegiado, engrandecido. Não importa que não tenha muitas conquistas na vida. Não faz mal que não tenha estudado. Não tem problema sua estreiteza de pensamento. O que importa é que ele corre pelo certo. Que faz parte do seleto grupo dos privilegiados com a verdade. O resto, todos os outros, esses sim são uns pobres coitados.

5. Efeito manada

Fanatismo

O efeito manada é a cereja no topo desse chantili de ilusão que é o fanatismo: quando o fanático faz parte de um grupo, sente-se privilegiado pela verdade verdadeira, confia firmemente nas ideias que lhe foram passadas e adere ao clima de exclusão do “nós contra eles”, começa a operar um fenômeno peculiar.

Aos poucos as coisas nas quais o fanático acreditava antes de aderir ao grupo começam a ficar borradas, flexíveis, questionáveis. Quando está em meio a uma multidão frenética, quando sente-se totalmente parte daquele grupo, o fanático pode se esquecer de que é um sujeito pacato, pode deixar de lado seus princípios de não-violência ou de amor ao próximo. E fanático se torna uma besta. Esse é o efeito manada.

O fanatismo é uma forma de loucura. E pode ser revertido, caso a pessoa esteja realmente disposta a compreender a existência de outras formas de ver o mundo. Não precisa nem deixar de acreditar no que acredita. Basta que se mantenha aberto e tolerante com os que pensam diferente de você. E já que estamos falando de mudança de mentalidade:

O que achou do artigo? Comente!