Síndrome de Burnout

Burnout: Conheça aqui as 5 fases do esgotamento completo

Se traduzirmos a palavra burnout ao pé da letra, ela significa queimado. E é assim que a pessoa esgotada se sente, como um prédio que foi consumido pelas chamas e está vazio, deteriorado e desagradável.

Burnout é um estado de esgotamento completo em que a pessoa fica sem energia e motivação. A principal causa do esgotamento é o excesso de trabalho e a exposição a situações muito estressantes nesse ambiente.

Dra Geri Puleo é especialista em burnout

A Dra Geri Puleo é especialista em síndrome de burnout e CEO da Change Management Solutions, uma instituição que presta consultoria a empresas para diminuir o estresse no ambiente corporativo. Dra Puleo criou o B-DOC, o Modelo de Mudança Organizacional Durante o Burnout, programa no qual promove mudanças nas empresas para diminuir o estresse e o excesso de pressão sobre funcionários e, assim, recuperar pessoas com burnout sem que elas precisem se desligar da empresa e, também, evitar que outros funcionários passem por essa experiência.

Em seus mais de 25 anos de trabalho com esse tema, Dra Puleo pesquisou sobre o ciclo da síndrome de burnout, como ela se desenvolve e quais são os fatores que influenciam esse problema nas empresas. Neste artigo, vamos falar o que é o burnout, explicar as 5 etapas do esgotamento e, ainda, dar dicas tanto para os empregadores quanto para funcionários sobre como evitar o burnout. Todo este texto é inspirado no trabalho desta especialista.

O que é burnout?

Burnout: Conheça aqui as 5 fases do esgotamento completo 1

O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.

Essa é um trecho do poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. Essas poucas palavras traduzem bem o sentimento de quem está passando pelo burnout. Digo está passando porque a síndrome do esgotamento é diferente de um cansaço pontual, comum.

Uma pessoa pode sentir um cansaço muito grande depois de uma semana intensa no trabalho. Ou, ainda, ter que descansar por alguns dias para se recuperar. A diferença entre o cansaço comum e o burnout é o tempo. A síndrome de burnout é um esgotamento que dura muito tempo e prejudica a saúde e o bem estar da pessoa.

O desenvolvimento dessa síndrome acontece num ciclo de 5 estágios. De acordo com a Dra Puleo, leva cerca de 6 meses para que uma pessoa passe por todo o ciclo do burnout e, em média, 2 anos para se recuperar, caso receba o tratamento adequado.

Personalidade propensa ao esgotamento completo

Para a Dra Geri Puleo, existem algumas pessoas que têm predisposição ao esgotamento. Os que sofrem de burnout são, geralmente, os melhores funcionários. Isso ocorre porque eles sempre se dedicam muito mais do que deveriam. São centralizadores, portanto, tomam muitas responsabilidades para si e têm dificuldade em delegar tarefas. Muitos deles são perfeccionistas e muito rigorosos consigo mesmos.

De um modo geral, esse tipo de pessoa ama o que faz e, por isso, sempre quer trabalhar mais e mais. Não respeitam o tempo de descanso, se preocupam excessivamente com o trabalho e, muitas vezes, vêem o trabalho como a coisa mais importante de suas vidas, prejudicando suas relações familiares e com amigos em prol da atuação profissional.

O Ciclo da Síndrome de Burnout

Cada pessoa vive o cansaço extremo de uma forma, mas é possível identificar pontos comuns nas trajetórias dessas pessoas:

1. Esperança

É a lua-de-mel com o trabalho. A pessoa se sente muito motivada e animada para fazer e acontecer na empresa. A dedicação atinge picos de intensidade e a pessoa simplesmente se esquece de descansar, de fazer pausas ou dividir responsabilidades.

Pessoas esgotadas começam o ciclo carregando o mundo nas costas e acham tudo isso normal. Muitas vezes, os líderes da organização, por seu lado, acham ótima a dedicação do funcionário e incentivam-no a se dedicar cada vez mais.

2. Frustração

Em determinado momento, a pessoa encontra limitações. Não conseguem fazer o que quer, por problemas da empresa ou por limitações em sua própria capacidade. A frustração pode ter como fonte, ainda, o fato de não são ser valorizado ou reconhecido por seu trabalho.

Seu desempenho inicial cria uma cobrança dos seus superiores. E, quando não consegue atingir o seu costumeiro alto nível de produtividade, os chefes acreditam que ele está fazendo “corpo mole”. A verdade é que a pessoa estava dando mais do que poderia e, por isso, não consegue manter o nível de produtividade. É também verdade que a própria empresa pode ter limitado sua capacidade.

3. Raiva

A partir da frustração nasce a raiva. E o que é raiva? A raiva é um sentimento muito comum na vida e é danoso quando não conseguimos lidar com ele. No ambiente de trabalho, muitas vezes, a pessoa sente dificuldade de expressar esse tipo de emoção. Ela procura, então, reprimi-las.

A raiva é um sentimento de protesto e indignação diante de uma situação. E quando é sistematicamente reprimida, transforma a pessoa numa bomba relógio: uma hora ela vai explodir. É muito comum que o funcionário que está no ciclo do esgotamento tenha dificuldade de controlar suas emoções negativas depois de um tempo, e isso se reflete em seu trabalho. A irritabilidade, o mau humor e a agressividade podem acontecer.

4. Apatia

A raiva é um sentimento difícil de conviver quando está sem controle. No caso da pessoa com burnout, se o ambiente de trabalho não muda nem oferece ajuda, acaba contribuindo para que a pessoa busque a autopreservação. Dedicar-se ao máximo não é mais viável, porque causa frustração, raiva, sofrimento, então, a pessoa recua.

O cansaço começa a ser sentido com mais evidência, prejudicando sua produtividade. Aparentemente, o funcionário está sem interesse, não se dedica mais como antes. Internamente, sente-se desmotivado e apático, pois se envolver de verdade com o trabalho é frustrante.

5. Esgotamento

A última fase do burnout é um cansaço crônico. A pessoa não consegue relaxar, mesmo que tire um final de semana de descanso. O esgotamento é a impossibilidade de descanso. Nessa fase a pessoa até comparece ao trabalho, mas parece que está apenas de corpo presente.

Ocorrem problemas físicos e emocionais, pois a imunidade está baixa e a pessoa está sem energia. Pode ser um resfriado que não cura nunca, alergias, pressão alta, insônia… E na área emocional podem aparecer depressão e transtornos de ansiedade. Além disso, o humor é instável, pois a pessoa não lida bem com as suas emoções. Isso torna seu temperamento cada vez mais difícil.

Internamente, a pessoa esgotada sente uma fadiga completa, dificuldade de se concentrar e demora mais para fazer coisas que levaria menos tempo antes. Nessa fase alguns podem se afastar da empresa por recomendação médica, pedir demissão ou simplesmente não ser um bom funcionário.

Recaídas

Quando se afastam do ambiente de trabalho, algumas pessoas sentem uma melhora. O normal, então, é voltar à ativa. Seja na mesma empresa ou em outra, assim que a pessoa entrar em contato com uma situação similar, os sintomas retornam. Quando chegam neste nível, o tratamento pode levar mais tempo.

O esgotamento prejudica a qualidade de vida e pode arruinar a carreira de uma pessoa que era muito promissora. Lembra da comparação da pessoa com burnout com um prédio queimado? Então, um prédio em ruínas não é habitável ainda. É preciso reformar, reconstruir para que se torne agradável novamente.

A recuperação da Síndrome de Burnout

O trabalho de reconstrução leva tempo. É importante respeitar-se e exigir respeito durante a recuperação. As situações de frustração devem ser analisadas com calma, para que a pessoa possa entender o que desencadeou o ciclo. Com o tempo, é possível se conhecer melhor e evitar as situações que geram o estresse e, também, aprender a lidar com esse estresse de forma diferente.

O longo processo de autoconhecimento e aceitação para a pessoa com burnout deve ser feita com acompanhamento de profissionais especializados. Não deixe de se cuidar, ok?

Como evitar o burnout?

Burnout: Conheça aqui as 5 fases do esgotamento completo 2

Evitar o burnout é uma tarefa conjunta. De acordo com a pesquisa da Dra Puleo, tanto a empresa quanto o funcionário devem estar atentos aos sinais do ciclo e devem saber como identificar problemas na organização do trabalho que podem gerar o esgotamento em seus funcionários.

Se você é funcionário

Se você é funcionário, você pode levar esses 5 fundamentos para sua atuação profissional:

  1. Não caia na armadilha da produtividade. Mesmo que esteja muito animado com um novo emprego ou um novo projeto, mantenha o equilíbrio e ofereça à empresa o suficiente. O que é o suficiente? A quantidade de dedicação que não prejudica as outras esferas de sua vida;
  2. Faça nada de vez em quando. Quando foi a última vez que você ficou completamente desligado do trabalho? Quando está em seu tempo livre, consegue relaxar com a família ou fica matutando sobre problemas do trabalho? Dê um tempo para você, para não fazer nada em prol do trabalho;
  3. Descanso não é procrastinação. Procrastinar é deixar para depois algo que precisa ser feito agora. Então, descansar no momento que é preciso recarregar as energias não deve te fazer se sentir culpado. Sabe quando você se sente perdendo seu tempo quando não está produzindo? Se você está em seu tempo livre, deve se libertar dessa culpa;
  4. Aprenda a relaxar. O que é relaxar para você? Tem gente que adora caminhar, tem quem goste de nadar ou praticar algum outro esporte. Qualquer coisa pode te deixar relaxado: um vídeo game, aprender a fazer uma comida diferente, ler, conversar com os amigos… Busque essas pequenas coisas nos momentos certos e, se possível, deixe o trabalho fora disso;
  5. Aprenda a curtir o momento. Carpe diem é a palavra de ordem para quem quer lidar com o estresse. Para viver plenamente o momento presente é preciso se desligar das preocupações e ficar mais leve. Porque não fazer coisas que não estavam nos planos, mas que vão ser divertidas? Se você quer saber mais sobre a arte de aproveitar a vida, confira este artigo sobre carpe diem.

Se você é líder

Agora, se você é um empregador, ocupa um cargo de chefia ou é responsável pela área de recursos humanos em sua empresa, também temos dicas para você. Esses são os 5 principais problemas de organização das empresas que contribuem para o esgotamento de seus funcionários:

  1. Liderança ineficaz. O tipo de liderança aplicado na empresa pode resolver ou criar problemas. Isso depende do quanto ele é adequado para a situação específica da organização. Para saber mais sobre tipos de liderança e como encontrar a melhor forma para você, veja este artigo aqui.
  2. Falta de cuidado com as pessoas. Quando a empresa não se importa com as pessoas, os funcionários tendem a se achar como dentes numa engrenagem. E isso não é bom. Algumas pessoas gostam de dizer: “Para a empresa, nós somos apenas um número”. Um funcionário que é tratado como um número certamente ficará frustrado com essa situação e poderá ficar esgotado;
  3. Sobrecarga de trabalho. Isso pode acontecer porque a pessoa se dedica mais do que deveria, mas também, frequentemente, acontece de um funcionário ter uma carga maior de trabalho porque pessoas ao seu redor não se dedicam o mínimo necessário. Isso é um desperdício e tanto, pois a empresa pode perder um funcionário com potencial por causa da falta de dedicação de outro;
  4. Ênfase excessiva em retornos sobre os investimentos. Empresas preocupadas demais com a produtividade e o lucro tendem a ignorar outras aspectos da organização que são tão importantes quanto, como os recursos humanos, por exemplo. Cuidar do bem estar de quem trabalha não é desperdício, é investimento;
  5. Cobranças excessivas e ilegítimas. Quando há um problema na empresa é importante dar um passo para trás para conseguir ver o quadro geral. Assim, é possível detectar problemas sem um juízo de valor. O que geralmente acontece é uma cadeia de cobranças, em que um pressiona o outro por resultados de forma insistente, mas esquecem de conversar sobre soluções. Para evitar cobranças automáticas é necessário incentivar a resolução de problemas e ouvir as pessoas.

Se você é líder, é possível que alguns desses 5 pontos incomodem você. Que tal conversar sobre isso nos comentários? Estamos aqui para trocar ideias. E, se você é funcionário, o que acha de compartilhar suas experiências com a gente? Fique à vontade.

O burnout é um assunto sério e precisa ser bem conhecido para ser evitado. Quer saber mais? Veja a palestra completa da Dra Puleo no YouTube. E antes de sair do blog, saiba como usar o estresse a seu favor neste artigo aqui.

O que achou do artigo? Comente!