Amor líquido

Amor líquido: 5 pontos sobre o pensamento de Zygmunt Bauman

Amor líquido é um conceito criado pelo pensador Zygmunt Bauman. Na verdade, o amor líquido é um termo que surgiu da ideia criada pelo estudioso: a modernidade líquida. E entender mais sobre essa forma de classificar nossos tempos ajuda a perceber a forma como vivemos nos dias de hoje de forma questionadora. Essa reflexão pode nos ajudar a aprender a viver melhor e de forma mais saudável nele.

Você sente que as suas relações são frágeis? Sente falta de amigos próximos ou de uma relação mais rica com seus familiares? O objetivo deste texto é conversar um pouco sobre esses tempos doidos em que vivemos.

Tudo que é sólido se desmancha no ar

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“Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão”, disse o autor para a Revista Isto É. Especialmente o mundo em que vivemos, a pressão pela mudança, pela busca do sucesso, pela circulação de mercadorias, transforma tudo a todo o momento. Coisas que eram sólidas e previsíveis se desmancham diante de nossos olhos. Você sente isso?

A tecnologia e seu avanço vertiginoso contribui para essa modernidade líquida e ao mesmo tempo é um ponto de partida para a gente refletir sobre ela. Talvez você seja jovem o suficiente para já ter nascido num mundo cheio de computadores. Mas vou dar um outro exemplo. Minha mãe.

Minha mãe se chama Joana e tem 58 anos. Ela nasceu em 1961 e, quando era criança, ainda não existia televisão na maioria das casas do Brasil. As notícias e o entretenimento vinham pelo rádio. Hoje, no entanto, tudo mudou. Em menos de 60 anos as televisões, os computadores e os smartfones são tão comuns quanto rádio foi um dia. Minha mãe manda mensagens de áudio para mim e adora ver memes na internet, que ela chama de “pegadinhas”.

50 anos pode parecer muito para você, só que para a sociedade e também para minha mãe, passou muito rápido. Você consegue imaginar quais serão as tecnologias do mundo daqui a 50 anos? Difícil dizer, né?

É um pouco sobre isso que Bauman fala: tudo muda rapidamente nos dias de hoje. Nada é feito para durar, desde as mercadorias até as relações amorosas. Vivemos sob a lógica do imediatismo e do descarte. Nesse tempo de incertezas, a única constante é a mudança. Como se sentir pleno e seguro?

Existe um discurso que pressiona as pessoas para a busca por ideais de sucesso: padrão de consumo, padrão de beleza, paranoia com segurança e relacionamentos instáveis.

O que é amor líquido?

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“Amor líquido é um amor ‘até segundo aviso’, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação”, explicou o pensador para a Revista Isto É.

O amor líquido é tão fluido quanto o mundo em que vivemos. Ele escorre pelas mãos, não dura nada e evapora. Em um dia, a pessoa é tudo para nós, nos preocupamos e cuidamos dela, participamos de sua vida e ajudamos no que for necessário. Em outro, depois que a relação acaba, ela se torna nada. Às vezes é até alvo de pensamentos negativos, como a raiva.

Falando assim, até parece conservadorismo. Mas refletir sobre a inconstância das relações e a superficialidade delas não é querer defender o amor romântico ou o casamento para a vida toda. Trata-se de pensar no equilíbrio.

Antes de chegar a este meio termo, porém, precisamos entender melhor o que Bauman pensou. Vamos lá?

1. O amor está em extinção

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Ok, parece bem catastrófico falar assim. Acredito que não seja o amor que esteja desaparecendo. São as formas de amor que estão mudando. Para Bauman, as relações duradouras, com vínculos fortes foram contaminadas pela lógica do consumo.

Assim como compramos coisas e nos desfazemos delas quando nos apetece, tratamos de descartar uma relação assim que ela apresenta algum problema. Trocamos um aparelho por outro mais atual e com outras funcionalidades com relativa facilidade. Abandonamos uma amizade ou uma relação amorosa quando ela incomoda de alguma forma.

Nas palavras do teórico Bauman:

“Atrás do seu laptop ou iPhone, com fones no ouvido, você pode se cortar fora dos desconfortos do mundo offline. Mas não há almoços grátis, como diz um provérbio inglês: se você ganha algo, perde alguma coisa. Entre as coisas perdidas estão as habilidades necessárias para estabelecer relações de confiança, as para o que der vier, na saúde ou na tristeza, com outras pessoas. Relações cujos encantos você nunca conhecerá a menos que pratique. O problema é que, quanto mais você busca fugir dos inconvenientes da vida offline, maior será a tendência a se desconectar.

2. A lógica do Match

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Escolhemos a pessoa amada por meio de um aplicativo de celular, que calcula nossa afinidade com base nas informações que colocamos lá. As fotos das pessoas aparecem na tela e reagimos de forma positiva ou negativa. Descarta ou aprova. Gosto ou não. Interessante ou indiferente.  Se Tinder é uma vitrine, as pessoas são os produtos?

As redes sociais formem uma espécie de catálogo onde as pessoas se vendem. Lá, você alimenta seu perfil para que outras pessoas entendam quem é você, seus gostos, opiniões, hábitos… Ficamos, de certa forma, presos a uma reputação virtual. Você consegue entender esse ponto de vista?

Essa é a lógica do marketing pessoal. Sua personalidade é vendida como algo a ser seguido, compartilhado e curtido. As pessoas são como mercadorias. Mercadorias são descartáveis. Logo, as pessoas também são.

Você pode achar essa forma de pensar muito radical. Apenas peço que consiga entender o que ela significa.

2. O amor em tempos de internet

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“Não existe almoço grátis”, diz o ditado inglês. Ganhamos muita conexão na internet, e como consequência, vivemos a desconexão na vida real. Ganhamos em comodidade e facilidade de comunicação. Perdemos em contato humano e administração dos sentimentos.

Já parou para pensar sobre como a conexão com pessoas pela internet é frágil? Algo incomodou? É só parar de seguir. Ficou incomodado? Dá um block. É possível desconectar e abandonar o contato virtual com um clique. Deletamos das redes e da vida. Fácil.

Os relacionamento duram muito pouco. Porque aprimorar, dialogar e tolerar o diferente se eu posso simplesmente partir pra outra? É certo que existem relações abusivas e violentas, mas nos casos em que a relação é apenas superficial, o término é algo simples, como um botão que você aperta para se livrar de um incômodo.

3. A medicalização da vida

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Estamos desenvolvendo uma estranha intolerância à frustração. Somos cada vez mais incapacidade de lidar com o sofrimento. Tomamos remédios para dor, para dormir, para ficar desperto, para emagrecer, para engordar…

São drogas e mais drogas que nos afastam de vivências reais e autênticas. E nos impedem de atravessar esses momentos com tudo de bom e ruim que eles oferecem. Nos impedimos de crescer.

4. A morte da constância

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Tudo é para hoje. Paciência é uma habilidade rara no mercado do amor líquido. Compramos com um clique e bloqueamos com um toque. Vivemos numa busca pelo que podemos conquistar agora, não há reflexão sobre o futuro. Isso nos faz agir de forma inconsequente. Grandes feitos, que pedem esforços e trabalhos de longo prazo, são desvalorizados.

De certa forma parece que a forma como vivemos o tempo tem mudado. Muita gente diz que ele passa rápido demais. Será que estamos distraídos a maior parte do tempo? Será que estamos ocupados demais para pensar no futuro? “A vida é maior que a soma de seus momentos”, disse Bauman.

 

Essa forma de pensar o mundo em que vivemos é incômoda e assustadora, não é? Se você não abandonou esse texto com a facilidade da modernidade líquida a seu dispor, significa que algo de interessante ele despertou em você… Que tal compartilhar nos comentários? Fique à vontade.

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